quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Desafios para famílias com filhos adolescentes

Muito se tem discutido sobre os temas: educação de filhos, relações familiares, entrada de filhos na adolescência, limites etc. Vemos uma grande quantidade de pais inseguros e perdidos quanto à sua função de educadores, não sabendo o que é adequado ou não na educação de seus filhos. O conceito de família vem se modificando ao longo dos anos e podemos encontrar famílias com estruturas diversificadas. Mesmo com essa modificação , algo se manteve, é na família que aprendemos e recebemos o nosso mapa para trilhar no mundo. De acordo com Teoria Sistêmica, a família é vista como um sistema dinâmico, vivo e que se modifica de acordo com o tempo, com trocas internas (entre os membros que a compõem) e externas (na relação com o mundo). Passa por ciclos que são considerados vitais e que trazem aprendizados e novas possibilidades de irem além em seu processo evolutivo. Vou ater-me ao ciclo de vida de pais com filhos adolescentes e não tenho pretensão de criar bula ou manual para pais e sim o desejo de contribuir para um pensamento reflexivo. O período da adolescência traz consigo mudanças físicas, emocionais e sociais, e para a família grande vulnerabilidade. O adolescente nesta etapa da vida questiona e contesta as regras, as normas, as crenças e todo o funcionamento familiar como tentativa de criar uma nova forma de ser, uma identidade baseada em sua nova visão de mundo. Se na infância a criança acreditava em tudo que lhe era transmitido, na adolescência acontece o oposto disso, torna-se descrente, tenta desconstruir grande parte do que lhe foi ensinado, vive suas questões intensamente e com pouca noção de realidade. De acordo com Rosset, 2003... “é na família que experimentamos tanto o pertencimento quanto a diferenciação. Pertencer significa participar, saber-se membro desta família, partilhar as suas crenças, valores, regras, mitos e segredos. Diferenciar refere-se à afirmação de sua singularidade, à sua individuação e ao seu direito de pensar e expressar-se independentemente dos valores defendidos por sua família”. Sendo assim, é na adolescência que temos a oportunidade de fazer a nossa primeira tentativa de constituir um EU, de buscar uma identidade própria, de tentarmos fazer as coisas à nossa maneira. Como não sabemos fazer isso no primeiro momento, buscamos em nosso meio os grupos para nos identificarmos, para reforçar nossa autoestima e começarmos a treinar o papel de adulto. É fundamental que os pais trabalhem o conceito de flexibilidade e autoridade nesse processo, permitindo ao adolescente explorar algumas nuances de sua autonomia, mas ao mesmo tempo dando lhe responsabilidades. Sem organização e disciplina não é possível preparar os filhos para a vida fora de casa. Toda relação familiar para funcionar de forma adequada precisa de hierarquia para que os papeis e funções fiquem bem definidos. Adolescente pede limite, lei e organização e a família é peça chave para esse processo. Caso um dos pais tenha tido dificuldades em seu processo de diferenciação, de busca pela sua identidade, terá dificuldades em ajudar o filho nesse processo. Tem pais que nem saíram da adolescência e que quando veem seu filho navegar por esses mares, sentem-se como seus colegas ou muitas vezes não conseguem dar passagem para esse filho caminhar e crescer. Outras vezes podem ter sido tão oprimidos que acabam por repetir isso com o filho gerando conflitos na hora de estabelecer as regras ou simplesmente não conseguindo se posicionar com autoridade na relação. Acredito que para que esse ciclo aconteça de forma saudável faz-se necessário um exercício de compaixão, compreensão, e acolhimento das dificuldades e angústias provenientes deste processo. É um momento turbulento para toda família, mas que possibilita a evolução e o crescimento de todos e que irá prepará-los para adaptações em seus ciclos posteriores. Fernanda Seabra CRP 04/18317- Psicóloga clínica e educacional, com formação em Psicoterapia familiar Sistêmica Referência bibliográfica: ROSSET, Solange. Pais e filhos – Uma relação delicada. ed. Sol 2003

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