segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Para Refletir!

“O que acontece no meio” de Martha Medeiros “Vida é o que existe entre o nascimento e a morte”. O que acontece no meio é o que importa. No meio, a gente descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo. Que a primeira metade da vida é muito boa, mas da metade pro fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma aventura sem igual. Que é preciso abrir a nossa caixa preta de vez em quando, apesar do medo do que vamos encontrar lá dentro. Que maduro é aquele que mata no peito as vertigens e os espantos. No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa. Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito rápido pode ser bem frustrante. Que Veneza, Mykonos, Bali e Patagônia são lugares excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa. Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase? Ora, é sempre mais forte. No meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Que é muito narcisista ficar se consumindo consigo próprio. Que todas as escolhas geram dúvida, todas. Que depois de lutar pelo direito de ser diferente, chega a bendita hora de se permitir a indiferença. Que adultos se divertem mais do que os adolescentes. Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio. No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo). Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo. No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.”

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Atravessando 2013 para 2014



“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”, já dizia Guimarães Rosa.

Mais um ano teremos em breve para atravessar: muitas coisas vamos levar; outras, precisamos deixar. Não vamos levar, ou não devemos levar, porque já não tem a forma do nosso corpo, já não fazem sentido para nós. Talvez sejam coisas que nos levam sempre aos mesmos lugares e impedem o ir além. E devemos carregar e fortalecer aquilo que realmente faz sentido para cada um, o que nos coloca em movimento e ajuda a realizar a melhor versão de nós mesmos. Importante para quem quer movimento. Todos nós queremos? Será? Não é uma tarefa fácil, exige trabalho, mas nos faz desdobrar, integrar, esta por inteiro na vida, nas relações de forma saudável mesmo com os limites e dificuldades.

 Nessa passagem que leva a reflexões e questionamentos, podemos ser tomados por dois pensamentos que nos colocam em xeque o apego ao velho e o medo, a preocupação (pré – ocupar) com o novo. Pergunto: o que nos leva a não passarmos pelas coisas, a não pensarmos na travessia? Será que acomodamos em excesso ao velho e não abrimos para o novo?  Ser humano não pensa em travessia, não queremos passar pelas coisas, queremos é chegar ou acomodar no velho. Porque será?

 Nesse artigo, quero, portanto refletir com vocês a travessia para o próximo ano: o caminho de 2013 para 2014. E, assim, pensarmos nas coisas boas que o novo reserva, nas alegrias que podem vir, com o conseqüente desapego ao medo, à preocupação, ao desconhecido que um ano que está para começar nos reserva. Mas já vou logo dizendo: não espere que as coisas mudem simplesmente porque um novo ano está chegando. A mudança esta em cada um de nós!Vamos ser a mudança que queremos ver, não espere pela mudança dos outros.Quer um ano melhor? Não espere por ninguém. Tenha coragem para construir o seu caminho e fazer a sua travessia.

Mas pra que falar de ano novo? O ano continuará tendo a mesma quantidade de dias, o dia continuará tendo 24 horas, a noite e o dia vão se alternar, além de dias quentes e frios...Tudo igual. O novo será cada um de nós. As soluções que vamos arrumar, assim como os problemas. O ponto de vista diante de uma situação. Como continuaremos numa relação. O que vamos fazer de melhor e como iremos lidar com os desentendimentos seja nas relações, trabalho e com a gente mesmo. Apenas essas coisas podem mudar. E, portanto, para a travessia para o ano novo o que mais precisamos é coragem. E não uma coragem comum, mas extraordinária. E o mundo esta cheio de covardes; por isso as pessoas param de crescer, ir além e movimentar.

Como se pode crescer sendo covarde? A cada nova oportunidade você recua, fecha os olhos? Que movimento fez no ano de 2013? Como poderá ser melhor em 2014?

“A entrada para o novo é a única coisa capaz de transformar você; não há outro meio de transformação. Se você deixar que o novo entre, você nunca mais será o mesmo” Autor Desconhecido

Desejo a todos vocês uma maravilhosa travessia para 2014, com um caminho cheio de coragem, responsabilidade, paz, movimentos, planos reais, amor e saúde. O caminho é nosso. Nós somos autores da travessia que queremos construir. Agradeço a vocês, clientes, colegas de trabalho, leitores e mestres que atravessaram comigo este ano de 2013. Que venham novas travessias!

Texto: Camila Lobato

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Assumir um papel ativo no processo do vir a ser

 
Lilian Graziano




Recentemente surpreendi a mim mesma lendo uma matéria sobre uma jogadora de futebol (logo eu, que não tenho nenhuma afinidade com esse esporte!). Na verdade, não se tratava de uma jogadora qualquer, mas de uma brasileira que foi reconhecida pela quinta vez como a melhor jogadora do mundo. Talento futebolístico a parte, confesso que a história me inspirou. O curioso que a fonte de inspiração veio muito mais da pessoa do que da atleta (que pesem seus méritos como tal). Nascida em uma cidade com menos de 15 mil habitantes, localizada no sertão alagoano, essa mulher não chegou a completar o ensino fundamental. Entretanto, hoje fala espanhol, inglês e... sueco, língua em que é capaz de se comunicar também pela escrita, em função de ter jogado cinco anos na Suécia.
 
“Ah, bom...” – diriam os mais cínicos - “a atleta fala sueco porque morou na Suécia!” Como se aproveitar das oportunidades e desafios para o próprio crescimento pessoal fosse característica de todos os seres humanos. Lembro-lhe, caro leitor, que se assim o fosse, não teríamos Presidentes da República que depois de oito anos no poder, não são capazes de falar uma palavra sequer em inglês! Mas essa já é outra conversa...
 
Além das diferentes línguas, a atleta diz também ter aprendido desde a cultura dos países em que viveu até a postura necessária para falar em público. E o mais interessante: orgulha-se de ter aprendido tudo sozinha. Atualmente, estava aprendendo a tocar violão. Pela internet.
 
Apesar disso, ela não nega a importância das outras pessoas no seu crescimento pessoal. Ao contrário, diz perceber que “o mundo a tem educado”.
 
Pessoas como essa fazem mais do que deixar que a vida as transforme. Dedicam suas vidas para provocar essas mudanças. Querem ser melhores. Mas muito antes de competirem com os outros, elas almejam tornar-se a melhor versão de si mesmas. Não seria esse um traço de saúde mental? Poderia haver uma característica humana mais essencial?
 
Durante meus anos de prática clínica, tenho recebido pessoas com diferentes níveis de sofrimento pessoal – algumas delas com níveis bastante altos. Porém, a experiência me mostrou que o montante de sofrimento não é o melhor indicativo de prognóstico do paciente. Ou seja, não é verdade que os que vivem um sofrimento mais profundo demorarão mais a se recuperar do que aqueles que experimentaram um sofrimento moderado.
 
A característica que faz com que as pessoas se recuperem mais rapidamente é o que chamamos em Psicologia Positiva de “iniciativa para o crescimento pessoal”, que nada mais é do que essa predisposição para nos tornarmos pessoas melhores.
 
Nesse sentido, talvez devêssemos parar de ensinar aos nossos filhos a competir com os outros, mostrando-lhes que a única batalha que importa é aquela que travamos com nosso próprio eu e que, exatamente por isso, nos leva à superação. Afinal, é sempre bom lembrarmos que de nada adianta ser uma metamorfose ambulante quando não se sabe para onde ela caminha.
 
Fonte: Revista Psique – março / 2011.