TERAPIA
FAMILIAR E AUTISMO
A
Terapia Familiar visa proporcionar a ampliação da realidade,
através de um olhar para além do adoecimento. O terapeuta busca
estar atento aos diversos detalhes que abrangem a doença e não
apenas focar no sintoma apresentado pelo paciente, mas no contexto em
que ele se apresenta, como por exemplo: as
historias familiares, individuais, aspectos culturais,
socioeconômicos e demais variáveis envolvidas no problema
apresentado.
O
objetivo do processo terapêutico não é necessariamente a cura dos
sintomas apresentados, mas a ampliação do olhar sobre determinada
situação no sentido de ajudar o cliente a encontrar maneiras mais
saudáveis de enfrentar condições que exigem das pessoas um
investimento emocional intenso.
Hoje,
os pais e demais membros familiares, são vistos e reconhecidos como
imprescindíveis no tratamento. Os profissionais focados no
acompanhamento
familiar
passaram a perceber que os resultados no atendimento a família
são
surpreendentes. A partir desta constatação, a família passou a ser
reconhecida como ponto principal e primordial de mudança. “A
tendência de culpar os pais, em especial a mãe, por problemas na
família foi um erro de direção evolutivo que continua a rondar o
campo.” (NICHOLS,2007, p.3).
E
foi isto que aconteceu em relação ao autismo. Na própria teoria de
Kanner,autoridade sobre o assunto, este autor passou por dois
momentos: um em que considerava os pais responsáveis pela condição
do autismo do filho (1943) e outro (1957) em que reformula esta
afirmação e reconsidera o autismo, dizendo ser apenas de uma
condição fisiológica e não mais afetiva.
A
terapia familiar acredita que o que mantém as pessoas paralisadas é
a sua grande dificuldade de enxergar a própria participação nos
problemas que as atormentam, não se
atendo
aos seus padrões de comportamento.
O
interesse pela família enquanto agente principal no processo de
melhora e tratamento do sujeito, saindo da vertente de
culpabilização, surge em sintonia com o aparecimento dos pioneiros
da terapia de família que tiveram uma maior diligência no contexto
das pessoas e suas relações.
Podemos
considerar que o diagnóstico de autismo
leva os familiares a enfrentar uma série de questões relacionadas
ao convívio com a síndrome, a reação da família dado o
diagnóstico dependerá do seu padrão próprio de enfrentar
situações de crise. Se a família lida com a doença como uma
ameaça, poderá ter como consequência emocional o aumento da
ansiedade e angústia. Já a compreensão da situação como uma
perda poderá levar à depressão. Porém a situação vista como
desafio, ocasionará uma ansiedade positiva rumo à esperança e
ação.
Desse
modo, a vida do ser humano se passa em família e em grupo, uma vez
que somos ser social. É nessa experiência que sentimos a vida e é
através dela que encontramos sentido para continuar seguindo e
construindo histórias. A experiência familiar nos permite crescer e
avançar rumo ao amadurecimento pessoal e do grupo, sendo a família
local de aprendizado. A partir da compreensão da história e padrões
familiares é possível libertar de crenças enraizadas e construir
um novo caminho.
A
família autista, independente do desafio em relação ao Transtorno
do Espectro Autista, apresenta um percurso de vida a ser seguido, no
qual os ciclos vitais se farão presentes e cada membro familiar terá
de cuidar desses momentos de forma que continuem, na medida do
possível, a vivenciá-los de forma natural.
O
curso da vida não cessa, apesar das limitações e realidade
diferenciada vivida pelo autista e sua família, é importante que
os membros não cristalizem seus papéis ao enfrentar as situações
que a síndrome impõe.
O
acolhimento pelo terapeuta, em termos de escuta diferenciada á
família do autista, ressalta a importância da coparticipação
desses atores no processo de emancipação de todos os membros. A
família hoje é vista como ferramenta de apoio e desenvolvimento do
autista.
Os
terapeutas familiares têm como foco a interação humana. Nesse
sentido o aprendizado mútuo se faz presente nessa troca –
familiares, autistas e profissionais – e é nessa dança
interacional que novas possibilidades de atuação se apresentam e
permitem o crescimento de mentalidades e o desabrochar de vidas.
Nádila
Walter
Terapeuta
Familiar
Pesquisadora
do Autismo e as Relações Familiares