terça-feira, 10 de julho de 2012

PARA AMAR E SER AMADO

Amar e ser amado: anseio dos que podem se entregar a este “luxo” ou, simplesmente, necessidade vital? Eu ousaria apostar na necessidade vital, ainda que tantas pessoas, ao longo de toda a história, pouco ou nada experimentam deste tão forte e delicioso sentimento. É ele que nos humaniza. É a sua ausência que nos torna rudes, hostis, simultaneamente frágeis e perigosos.
Quando nasce um bebê, estamos diante de um enorme ponto de interrogação. Aí está ele, com sua bagagem genética a sugerir tendências e limites, e com uma identidade registrada e reconhecida (ou não) pela família e em cartório. Não sabemos o que lhe reserva o futuro, “quem” ele virá a ser e como haverá de viver a sua vida, pois, para constituir-se e desenvolver-se “como pessoa”, ele depende dos estímulos e das oportunidades que receber. De como é ou deixa de ser amado. Em casos desfavoráveis, desumaniza-se, ou nem chega a se humanizar.
Somos quem somos devido a uma série de oportunidades que, desde o berço, a vida nos oferece. Passo a passo, aprendemos a nos defender da dor, a suportá-la, a buscar o prazer, a trilhar caminhos que nos dão a certeza de que viver é muito bom. Nada disso, porém, é linear, nada disso é fácil. Só que, além de reconhecermos a complexidade da vida, alguns de nós temos o dom de complicar as coisas mais simples, de buscar a felicidade onde ela não está e de projetar as frustrações em possíveis culpados, ao invés de assumirmos a responsabilidade sobre nossas escolhas. 
Amar e ser amado penso que seria o natural, como uma boa semente que germina e se desenvolve em solo fértil e em clima favorável. O que é próprio da natureza viva, porém, necessita que sejam cumpridas algumas pré-condições para atingir o mais pleno esplendor. Muito do que somos e vivemos está diretamente vinculado a heranças que vêm sendo repassadas de geração a geração. Nem por isso é válido nos colocarmos no papel de devedores, vítimas ou vingadores. Afinal, o modo como administramos nossas possibilidades faz toda a diferença e, se é verdade que, sendo amados aprendemos a amar, também é verdade que, amando, teremos como retorno o fato de sermos verdadeiramente amados.
Este, enfim, é o tema central desta coluna: “Para amar e ser amado”, cujo próximo encontro será sobre “E por falar em bebês”, tendo como objetivo repensarmos nossa história pessoal e como ela pode influenciar em nossas histórias de amor e em nossa sexualidade.

Autora: Iara Camarata Anton

* Iara Camaratta Anton é psicóloga, psicoterapeuta individual e de casais. Escritora, autora dos livros “A Escolha do Cônjuge – um entendimento sistêmico e Psicodinâmico”; “Homem e Mulher – Seus vínculos secretos”; "Cegonha à Vista! E agora, o que vai ser de mim?...”; “O casal diante do espelho. Psicoterapia de Casal – teoria e técnica”. Site: www.iaracamaratta.com.br.