Amar e ser amado: anseio dos que podem se entregar a este “luxo” ou,
simplesmente, necessidade vital? Eu ousaria apostar na necessidade
vital, ainda que tantas pessoas, ao longo de toda a história, pouco ou
nada experimentam deste tão forte e delicioso sentimento. É ele que nos
humaniza. É a sua ausência que nos torna rudes, hostis, simultaneamente
frágeis e perigosos.
Quando nasce um bebê, estamos diante de um
enorme ponto de interrogação. Aí está ele, com sua bagagem genética a
sugerir tendências e limites, e com uma identidade registrada e
reconhecida (ou não) pela família e em cartório. Não sabemos o que lhe
reserva o futuro, “quem” ele virá a ser e como haverá de viver a sua
vida, pois, para constituir-se e desenvolver-se “como pessoa”, ele
depende dos estímulos e das oportunidades que receber. De como é ou
deixa de ser amado. Em casos desfavoráveis, desumaniza-se, ou nem chega a
se humanizar.
Somos quem somos devido a uma série de oportunidades que, desde o berço, a vida nos oferece. Passo
a passo, aprendemos a nos defender da dor, a suportá-la, a buscar o
prazer, a trilhar caminhos que nos dão a certeza de que viver é muito
bom. Nada disso, porém, é linear, nada disso é fácil. Só que,
além de reconhecermos a complexidade da vida, alguns de nós temos o dom
de complicar as coisas mais simples, de buscar a felicidade onde ela não
está e de projetar as frustrações em possíveis culpados, ao invés de
assumirmos a responsabilidade sobre nossas escolhas.
Amar e ser amado penso que seria o natural, como uma boa semente que
germina e se desenvolve em solo fértil e em clima favorável. O que é
próprio da natureza viva, porém, necessita que sejam cumpridas algumas
pré-condições para atingir o mais pleno esplendor. Muito do que somos e
vivemos está diretamente vinculado a heranças que vêm sendo repassadas
de geração a geração. Nem por isso é válido nos colocarmos no papel de
devedores, vítimas ou vingadores. Afinal, o modo como administramos
nossas possibilidades faz toda a diferença e, se é verdade que, sendo
amados aprendemos a amar, também é verdade que, amando, teremos como
retorno o fato de sermos verdadeiramente amados.
Este, enfim, é o
tema central desta coluna: “Para amar e ser amado”, cujo próximo
encontro será sobre “E por falar em bebês”, tendo como objetivo
repensarmos nossa história pessoal e como ela pode influenciar em nossas
histórias de amor e em nossa sexualidade.
Autora: Iara Camarata Anton
* Iara Camaratta Anton é psicóloga, psicoterapeuta
individual e de casais. Escritora, autora dos livros “A Escolha do
Cônjuge – um entendimento sistêmico e Psicodinâmico”;
“Homem e Mulher – Seus vínculos secretos”; "Cegonha à
Vista! E agora, o que vai ser de mim?...”; “O casal diante do
espelho. Psicoterapia de Casal – teoria e técnica”.
Site: www.iaracamaratta.com.br.