“Onde falta o amor,
o poder preenche o vazio”
Vera Schiller de
Kohn
Em dezembro de
2013, foi lançado o filme Álbum de Família, adaptação ao cinema da peça
homônima do escritor Tracy Letts. A trama inicia-se a partir do suposto sumiço
do patriarca, com a contratação prévia de uma nativa indígena para se
encarregar dos serviços domiciliares e a frase de T. S. Eliot, do poema Os homens ocos, “A vida é muito longa”
sendo declarada e reafirmada que o poeta não foi o primeiro a dizer ou a pensar
isso, mas está certíssimo.
A família se vê
obrigada a reencontrar e dali surgem cenas que passam da mais completa
crueldade à total vulnerabilidade que uma pessoa possa estar. Das relações mãe
e filha, dos segredos existentes e de uma fachada de dureza e superioridade
retratados, resta-nos refletir de como as famílias podem se configurar em um
terreno árido de poder e destruição quando o que mais buscam é o afeto e a
possibilidade de um amparo diante das incertezas e da complexidade do nosso mundo.
Leva-nos também a pensar que quando não fazemos um contato real com a nossa
história, a qual inicia com as pessoas que nos deram o nome, corremos um grave
risco à repetição de padrões, com a manutenção de atitudes e comportamentos que
não retratam verdadeiramente a escolha particular que se quer dar à própria
vida.
Com toda a
dramaticidade retratada, Álbum de Família nos oferece a oportunidade de
identificarmos e nos separarmos da nossa própria família em algum grau,
movimento este tão necessário para uma construção de uma história própria.
Por Janine Araujo