segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Assumir um papel ativo no processo do vir a ser

 
Lilian Graziano




Recentemente surpreendi a mim mesma lendo uma matéria sobre uma jogadora de futebol (logo eu, que não tenho nenhuma afinidade com esse esporte!). Na verdade, não se tratava de uma jogadora qualquer, mas de uma brasileira que foi reconhecida pela quinta vez como a melhor jogadora do mundo. Talento futebolístico a parte, confesso que a história me inspirou. O curioso que a fonte de inspiração veio muito mais da pessoa do que da atleta (que pesem seus méritos como tal). Nascida em uma cidade com menos de 15 mil habitantes, localizada no sertão alagoano, essa mulher não chegou a completar o ensino fundamental. Entretanto, hoje fala espanhol, inglês e... sueco, língua em que é capaz de se comunicar também pela escrita, em função de ter jogado cinco anos na Suécia.
 
“Ah, bom...” – diriam os mais cínicos - “a atleta fala sueco porque morou na Suécia!” Como se aproveitar das oportunidades e desafios para o próprio crescimento pessoal fosse característica de todos os seres humanos. Lembro-lhe, caro leitor, que se assim o fosse, não teríamos Presidentes da República que depois de oito anos no poder, não são capazes de falar uma palavra sequer em inglês! Mas essa já é outra conversa...
 
Além das diferentes línguas, a atleta diz também ter aprendido desde a cultura dos países em que viveu até a postura necessária para falar em público. E o mais interessante: orgulha-se de ter aprendido tudo sozinha. Atualmente, estava aprendendo a tocar violão. Pela internet.
 
Apesar disso, ela não nega a importância das outras pessoas no seu crescimento pessoal. Ao contrário, diz perceber que “o mundo a tem educado”.
 
Pessoas como essa fazem mais do que deixar que a vida as transforme. Dedicam suas vidas para provocar essas mudanças. Querem ser melhores. Mas muito antes de competirem com os outros, elas almejam tornar-se a melhor versão de si mesmas. Não seria esse um traço de saúde mental? Poderia haver uma característica humana mais essencial?
 
Durante meus anos de prática clínica, tenho recebido pessoas com diferentes níveis de sofrimento pessoal – algumas delas com níveis bastante altos. Porém, a experiência me mostrou que o montante de sofrimento não é o melhor indicativo de prognóstico do paciente. Ou seja, não é verdade que os que vivem um sofrimento mais profundo demorarão mais a se recuperar do que aqueles que experimentaram um sofrimento moderado.
 
A característica que faz com que as pessoas se recuperem mais rapidamente é o que chamamos em Psicologia Positiva de “iniciativa para o crescimento pessoal”, que nada mais é do que essa predisposição para nos tornarmos pessoas melhores.
 
Nesse sentido, talvez devêssemos parar de ensinar aos nossos filhos a competir com os outros, mostrando-lhes que a única batalha que importa é aquela que travamos com nosso próprio eu e que, exatamente por isso, nos leva à superação. Afinal, é sempre bom lembrarmos que de nada adianta ser uma metamorfose ambulante quando não se sabe para onde ela caminha.
 
Fonte: Revista Psique – março / 2011.

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