Lilian Graziano
Recentemente
surpreendi a mim mesma lendo uma matéria sobre uma jogadora de futebol (logo
eu, que não tenho nenhuma afinidade com esse esporte!). Na verdade, não se
tratava de uma jogadora qualquer, mas de uma brasileira que foi reconhecida
pela quinta vez como a melhor jogadora do mundo. Talento futebolístico a parte,
confesso que a história me inspirou. O curioso que a fonte de inspiração veio
muito mais da pessoa do que da atleta (que pesem seus méritos como tal).
Nascida em uma cidade com menos de 15 mil habitantes, localizada no sertão
alagoano, essa mulher não chegou a completar o ensino fundamental. Entretanto,
hoje fala espanhol, inglês e... sueco, língua em que é capaz de se comunicar
também pela escrita, em função de ter jogado cinco anos na Suécia.
“Ah, bom...” – diriam os mais
cínicos - “a atleta fala sueco porque morou na Suécia!” Como se aproveitar das
oportunidades e desafios para o próprio crescimento pessoal fosse
característica de todos os seres humanos. Lembro-lhe, caro leitor, que se assim
o fosse, não teríamos Presidentes da República que depois de oito anos no poder,
não são capazes de falar uma palavra sequer em inglês! Mas essa já é outra
conversa...
Além das diferentes línguas, a atleta
diz também ter aprendido desde a cultura dos países em que viveu até a postura
necessária para falar em
público. E o mais interessante: orgulha-se de ter aprendido
tudo sozinha. Atualmente, estava aprendendo a tocar violão. Pela internet.
Apesar disso, ela não nega a
importância das outras pessoas no seu crescimento pessoal. Ao contrário, diz
perceber que “o mundo a tem educado”.
Pessoas como essa fazem mais do que
deixar que a vida as transforme. Dedicam suas vidas para provocar essas
mudanças. Querem ser melhores. Mas muito antes de competirem com os outros,
elas almejam tornar-se a melhor versão de si mesmas. Não seria esse um traço de
saúde mental? Poderia haver uma característica humana mais essencial?
Durante meus anos de prática
clínica, tenho recebido pessoas com diferentes níveis de sofrimento pessoal –
algumas delas com níveis bastante altos. Porém, a experiência me mostrou que o
montante de sofrimento não é o melhor indicativo de prognóstico do paciente. Ou
seja, não é verdade que os que vivem um sofrimento mais profundo demorarão mais
a se recuperar do que aqueles que experimentaram um sofrimento moderado.
A característica que faz com que as
pessoas se recuperem mais rapidamente é o que chamamos em Psicologia Positiva
de “iniciativa para o crescimento pessoal”, que nada mais é do que essa
predisposição para nos tornarmos pessoas melhores.
Nesse sentido, talvez devêssemos
parar de ensinar aos nossos filhos a competir com os outros, mostrando-lhes que
a única batalha que importa é aquela que travamos com nosso próprio eu e que,
exatamente por isso, nos leva à superação. Afinal, é sempre bom lembrarmos que
de nada adianta ser uma metamorfose ambulante quando não se sabe para onde ela
caminha.
Fonte: Revista Psique
– março / 2011.
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