terça-feira, 26 de novembro de 2013

TERAPIA FAMILIAR E AUTISMO

TERAPIA FAMILIAR E AUTISMO

A Terapia Familiar visa proporcionar a ampliação da realidade, através de um olhar para além do adoecimento. O terapeuta busca estar atento aos diversos detalhes que abrangem a doença e não apenas focar no sintoma apresentado pelo paciente, mas no contexto em que ele se apresenta, como por exemplo: as historias familiares, individuais, aspectos culturais, socioeconômicos e demais variáveis envolvidas no problema apresentado.

O objetivo do processo terapêutico não é necessariamente a cura dos sintomas apresentados, mas a ampliação do olhar sobre determinada situação no sentido de ajudar o cliente a encontrar maneiras mais saudáveis de enfrentar condições que exigem das pessoas um investimento emocional intenso.
Hoje, os pais e demais membros familiares, são vistos e reconhecidos como imprescindíveis no tratamento. Os profissionais focados no acompanhamento familiar passaram a perceber que os resultados no atendimento a família são surpreendentes. A partir desta constatação, a família passou a ser reconhecida como ponto principal e primordial de mudança. “A tendência de culpar os pais, em especial a mãe, por problemas na família foi um erro de direção evolutivo que continua a rondar o campo.” (NICHOLS,2007, p.3).

E foi isto que aconteceu em relação ao autismo. Na própria teoria de Kanner,autoridade sobre o assunto, este autor passou por dois momentos: um em que considerava os pais responsáveis pela condição do autismo do filho (1943) e outro (1957) em que reformula esta afirmação e reconsidera o autismo, dizendo ser apenas de uma condição fisiológica e não mais afetiva.

A terapia familiar acredita que o que mantém as pessoas paralisadas é a sua grande dificuldade de enxergar a própria participação nos problemas que as atormentam, não se
atendo aos seus padrões de comportamento.
O interesse pela família enquanto agente principal no processo de melhora e tratamento do sujeito, saindo da vertente de culpabilização, surge em sintonia com o aparecimento dos pioneiros da terapia de família que tiveram uma maior diligência no contexto das pessoas e suas relações.

Podemos considerar que o diagnóstico de autismo leva os familiares a enfrentar uma série de questões relacionadas ao convívio com a síndrome, a reação da família dado o diagnóstico dependerá do seu padrão próprio de enfrentar situações de crise. Se a família lida com a doença como uma ameaça, poderá ter como consequência emocional o aumento da ansiedade e angústia. Já a compreensão da situação como uma perda poderá levar à depressão. Porém a situação vista como desafio, ocasionará uma ansiedade positiva rumo à esperança e ação.

Desse modo, a vida do ser humano se passa em família e em grupo, uma vez que somos ser social. É nessa experiência que sentimos a vida e é através dela que encontramos sentido para continuar seguindo e construindo histórias. A experiência familiar nos permite crescer e avançar rumo ao amadurecimento pessoal e do grupo, sendo a família local de aprendizado. A partir da compreensão da história e padrões familiares é possível libertar de crenças enraizadas e construir um novo caminho.

A família autista, independente do desafio em relação ao Transtorno do Espectro Autista, apresenta um percurso de vida a ser seguido, no qual os ciclos vitais se farão presentes e cada membro familiar terá de cuidar desses momentos de forma que continuem, na medida do possível, a vivenciá-los de forma natural.

O curso da vida não cessa, apesar das limitações e realidade diferenciada vivida pelo autista e sua família, é importante que os membros não cristalizem seus papéis ao enfrentar as situações que a síndrome impõe.

O acolhimento pelo terapeuta, em termos de escuta diferenciada á família do autista, ressalta a importância da coparticipação desses atores no processo de emancipação de todos os membros. A família hoje é vista como ferramenta de apoio e desenvolvimento do autista.

Os terapeutas familiares têm como foco a interação humana. Nesse sentido o aprendizado mútuo se faz presente nessa troca – familiares, autistas e profissionais – e é nessa dança interacional que novas possibilidades de atuação se apresentam e permitem o crescimento de mentalidades e o desabrochar de vidas.

Nádila Walter
Terapeuta Familiar
Pesquisadora do Autismo e as Relações Familiares

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