terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pequeno guia para a convivência com casais

Quando a gente se casa, descobre que cada parte do casal perde a certidão de nascimento e recebe UMA certidão de casamento. Tornar-se uno à força, via cartório, é assustador, mas vira brinquedo de criança perto do tratamento recebido dos conhecidos e nem tão conhecidos assim. O problema é que as pessoas ainda não conseguem ver um casal como pessoas distintas, com interesses, amigos e personalidades diferentes, tratando as mulheres como dependentes ou inferiores, e muitas vezes o “agressor” não entende o porquê da ofensa. Como já passei muita raiva com esse assunto, seguem algumas sugestões para evitar problemas na convivência com casais:

O casal é formado por duas pessoas com os mesmos direitos
Se sabe que determinado assunto é de interesse da Fulana, conte diretamente a ela, e não fique esperando que Beltrano seja seu moleque de recados. Ela não vai pensar que você tem segundas intenções só por causa disso.
Não presuma que o convite da festa pode ser feito apenas para Beltrano, e que ele se encarrega de arrastar Fulana pro evento. Ao fazer isso, você diz: “se Beltrano vai, é lógico que ele vai levar Fulana, pois eles são um casal e só podem ir junto às festas”. Raciocínio ridículo é o mínimo a se dizer sobre isso, pois transforma Fulana em apêndice do Beltrano.
Lembre-se que, no convite escrito, é bom convidar expressamente Fulana e Beltrano. Nada de senhora, afinal ambos têm nomes é pra serem usados, e o senhora pode ser confundido com “senhora sua mãe”. Se citar apenas um dos nomes, pode criar a péssima dúvida: “será que o convite é pro casal ou apenas pra mim?”

Casais têm mais coisas pra fazer do que só falar de assuntos profissionais
Por incrível que pareça, muita gente não entende isso e jura que Fulana virou PHD na área profissional do Beltrano só porque começaram a namorar na semana passada. Ou atribuem as habilidades profissionais de Fulana exclusivamente à convivência com Beltrano. Curiosamente, o contrário não ocorre… ninguém fala que Beltrano virou especialista nas habilidades profissionais da Fulana, sejam elas direito, computação, medicina, mecânica, tricô, psicologia ou gastronomia.

Uma parte do casal não é clone da outra
Casais podem até ser parecidos e ter objetivos em comum, mas não necessariamente têm as mesmas opiniões, e isso não é uma aberração nem o fim do mundo. Portanto, guarde a cara de “oh, é muita audácia ela discordar de você”, as piadinhas do voto de cabresto, e o incentivo à violência doméstica (“ela discorda de você e vai ficar por isso mesmo?”) para o seu espelho.

Cada parte do casal pode ir sozinha a festas sem que isso signifique crise ou fim do relacionamento
Simples assim: seja qual for o motivo, a menos que digam claramente que estão separados, não fantasie sobre a ausência do cônjuge. Casamento não significa vigilância nem dependência perpétua.

Para compromissos profissionais, um casal não deve ser tratado como casal
Mesmo que trabalhem na mesma área, ou áreas parecidas, ou no mesmo local, devem ser tratados como qualquer outro colega solteiro. Nada pior do que o chefe conversar com Beltrano sobre a situação da Fulana ANTES de falar com ela, sendo que Beltrano NADA tem a ver com o assunto.
O fato de serem um casal não significa que devem ter os mesmos horários e freqüentar os mesmos locais, a menos que AMBOS peçam isso.
Nunca, mas nunca mesmo, pergunte a Fulana se Beltrano vai se opor a ela trabalhar em local distante, ou se Beltrano irá buscá-la no trabalho. Os problemas de deslocamento de Fulana são apenas dela, e ela que se vire pra resolvê-los. Beltrano é marido; não é pai, nem motorista nem babá. Se fosse uma mulher solteira, ou um homem, você perguntaria uma coisa dessas?

Casamento não significa troca de pai e mãe
Ao se casar, Beltrano não se torna pai de Fulana, nem Fulana se torna mãe de Beltrano. Não se dirija a nenhum deles reclamando de algo de errado, diferente, preocupante ou exótico que a outra parte fez, esperando um corretivo para a situação. Pessoas casadas são, teoricamente, adultas, e devem resolver seus problemas sozinhas. Transferir a situação para o cônjuge, como se fosse função dele resolver o problema que a “criança” causou, implica em presumir que a outra parte é incapaz de resolver seus problemas sozinha. Na melhor das hipóteses, você está ofendendo a pessoa; na pior, perdeu o respeito do casal.

Casamento não significa que uma parte sabe tudo sobre a outra parte
Cônjuge não é agenda, nem espelho da verdade, nem tem bola de cristal. A menos que se viva apenas pra isso, é impossível saber de cor todos os horários e compromissos da outra parte. E, se a pessoa não está do seu lado, como saber onde ela está ou o que ela está fazendo?
Não estimule nem brinque com ciúmes, desconfiança ou controle entre casais. Se fizer isso, estará contribuindo para um mundo onde as pessoas vivem estressadas porque desconfiam até da própria sombra, além de serem propriedade do cônjuge. O resultado mais óbvio dessa postura chama-se violência doméstica, tanto física quanto psicológica.


Autora: Cynthia Semíramis

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